"E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar." (Clarice Lispector)

terça-feira, 8 de março de 2011

Direto do planeta solidão




"Lá estou eu em mais uma mesa com taças de vinho pela metade, risos pela metade, fumaças desenhando algo que quase formou uma imagem, restos de couvert e bolinhas inacabadas e nervosas de guardanapo. Olho pro lado e sinto uma saudade imensa, doída, desesperançada e até cínica. Saudade de alguma coisa ou de alguém, não sei. Talvez de mim, de algum marido fabuloso que eu tive em alguma encarnação, do útero da minha mãe, do meu anjo da guarda que está de férias em Acapulco, do meu avô que embrulhava sempre meu aparelho de dentes em um guardanapo e depois esquecia e jogava no lixo achando que era resto de algum lanchinho, de algum amor verdadeiro que durou um segundo, de uma cena perfeita que meu inconsciente formou na infância e que eu me encarreguei de acreditar como sendo meu futuro. . 
.Meus amigos me adoram e certamente chorariam se eu morresse. Mas será que eles sabem que eu penso sempre na morte? Será que eles sabem que aquela garota ali no canto da mesa, de decote, de bolsa da moda, rindo pra caramba, contando mais uma de suas aventuras vazias e descartáveis, acorda todos os dias pensando: o que eu realmente quero com essa vida? Como eu faço pra ser feliz?Será que eles sabem que se eu estou morrendo de rir agora, daqui a pouco vou morrer de chorar? E vice-versa? E isso 24 horas por dia? E isso mesmo com terapia, mesmo com macumba, mesmo com espiritismo, mesmo com meditação, mesmo com o namoradinho da semana. Será que eles sabem o tanto que eu sofro e o tanto que eu não sofro a cada segundo?
.Meus amigos me adoram. Mas sempre que podem, tiram sarro da minha cara. Sempre que podem, me transformam na chacotinha da mesa: Tati não sabe nadar, Tati não se droga, Tati não bebe, Tati expõe sua vida no site dela, Tati não arruma ninguém que a ame de verdade porque é louca, Tati assusta os caras, Tati é boba e se apaixona sempre, Tati não leva ninguém a sério, Tati explode por tudo, Tati fala demais, Tati fala palavrão, Tati reclama demais….Minha melhor amiga me ama muito, mas ela adora que eu seja o erro em pessoa só para ela se sentir o acerto em pessoa. Meu melhor amigo me chamou de infeliz um dia e eu nunca mais consegui rir da infelicidade dele. Meu outro amigo me adora, muito, mas se pudesse, de verdade, ele trepava comigo a noite inteira e nem me ligava no dia seguinte. Meus amigos me amam, muito, mas nem o máximo de amor de uma pessoa chega perto do que deveria ser amor. Amor não significa mais amor. E eu, mais uma vez, olho para o lado morrendo de saudade dessa coisa que eu não sei o que é. Dessa coisa que talvez seja amor.
.Sinto um nojo enorme e desesperador de todos os afetos em pílulas que posso ganhar. Fulano me acha a melhor companhia do mundo, mas pensando bem, ele pode desfilar com modelos por aí. Fulano pensa em mim todos os dias, mas pensando bem, ele tem que curtir a vida com seu carro novo. Fulano se diverte horrores comigo, mas pensando bem, ele também curte aquela tia tatuada que eu nem sei quem é e no fundo to pouco me lixando. Fulano passeou de mãos dadas comigo naquele fim de tarde que mereceu nossos aplausos, mas, quer saber? Viram ele dois dias depois de dormir na minha casa com outra numa festa. Fulano me apresentou para todos os amigos e encheu minha geladeira de comida, mas quer saber, putz, qualquer garotinha do bar dos pseudo-intelectuais malas também pode ser interessante ou, caso não seja, ao menos tem um buraco.
.Odeio todas as minhas pílulas, odeio todos os amores baratos, curtos e não amores que eu inventei só para pular uma semana sem dor. A cada semana sem dor que eu pulo, pareço acumular uma vida de dor. Preciso parar, preciso esperar. Mas a solidão dói e eu sigo inventando personagens. Odeio minha fraqueza em me enganar e mais ainda a dor que vem depois dos dias entorpecidos.
Eu invento amor, sim. E dói admitir isso. Mas é que não agüento mais não dar um rosto para a minha saudade. E não agüento mais os copos, as fumaças, os amigos, as intenções e as bolinhas de guardanapo pela metade. É tudo pela metade. Ao menos a minha fantasia é por inteiro. Enquanto dura..No final bruto, seco e silencioso da melhor festa do mundo que nem começou, é sempre isso mesmo. Eu aqui tomando meu chá mate limão meio querendo chorar, meio querendo mentir sobre a vida até acreditar. Aí eu limpo a maquiagem com creme anti-sinais e percebo que não faz o menor sentido ser uma criança chorona preocupada com rugas. Aí eu me acho louca porque só tem duas coisas que eu realmente queria nesse mundo: um filho ou voltar a ser filha. E aí eu deito pra dormir e penso em sacanagem, mas também penso em coisas bonitinhas. E eu rezo pedindo a Deus que não espere mais eu ser legal para ser legal comigo, porque eu to esperando ele ser legal comigo para ser legal. Aí eu penso que ele já é legal comigo e que, talvez, eu já seja legal com ele. E que tá tudo bem. Mas se eu penso que tá tudo bem nesse segundo, isso só significa que vou pensar o oposto no segundo seguinte. E que eu escrevi “ele” sem maiúscula mesmo, porque amigo íntimo a gente não fica com essa coisa de endeusar. E eu queria que Ele fosse meu amigo íntimo, ou ao menos existisse. E quando vou ver, já dormi. Sozinha."


Tati B.





Procura-se esperança desesperadamente. ..

"Pra onde foi a minha inspiração? Cadê? Uma preguiça de acordar. Uma preguiça de tomar banho, escolher uma roupa, escolher entre bolo de chocolate e suco de laranja. Tudo parece ter o mesmo gosto falso de paliativos. De forte somente a preguiça de contar de tantas preguiças. Da cartilha do sucesso, que manda estudar, amar o que se faz e se relacionar bem, apenas amei. Nem isso faço mais. Sou uma péssima aluna.

Tenho a impressão de ter chegado ao topo de uma montanha, mas ela era muito alta e afastada e ninguém me viu.
Em vez de sucesso sinto segundos desejáveis de suicídio, vontade de pular lá de cima da montanha com o dedo desejando um último foda-se ao mundo. Nem que seja para fazer barulho e sujar o chão dos equilibrados. Nem que seja para fazer falta.

Cadê o gosto intenso de fugir do mundo com um segredo fatal? Não existem segredos fatais: todo mundo come todo mundo por caça e infelicidade. Somos animais tristes e não seres loucos e apaixonados. Eu me enganei tanto com o ser humano que ando com preguiça de me entregar.Ninguém tem coragem pra mudar nada, ou apenas é inteligente para saber que a rotina chega de um jeito ou de outro, não adianta se mover.

Pra quem faço falta e aonde me encaixo? Aonde sou útil e pra quem sou essencial? Pra onde vou e aonde descanso? Pra quem e por quem vivo? Freud mexeu três vezes no túmulo com a vontade de me dizer que devo viver por mim. Dane-se a psicanálise: é muito mais gostoso ter outros encantamentos, além do umbigo.

Não que esses encantamentos não sejam para agradar meu umbigo. Ok, fiz as pazes com Freud, que deve achar o egoísta um pouco menos doente que o depressivo.

Ou não, não fiz as pazes com Freud, que acha tudo farinha do mesmo saco e nem está prestando atenção em mim. Ele é só mais um a não enxergar o alto da montanha, mesmo porque ele está embaixo da terra. Incluo Freud no meu "foda-se o mundo". Que papo é esse?

A esperança desesperada por amor e reconhecimento profissional deixou escapar a cansada esperança que se assustou de desespero.

Perdi meu deslumbramento, a válvula propulsora da vida que tive até aqui. Cansei de me encantar pelo difícil. Que tal um homem e um salário de verdade pra viver uma vida de verdade? Chega da miséria do sonho.

Chega de idealizar uma vida com um fone no ouvido. Eu quero tocar, eu quero cair das nuvenzinhas acima da minha cabeça. 

Junto com meu deslumbramento, perdi boa parte de quem eu era. Boa parte tão grande que não tenho para onde ir. Sou uma sem-vida.

Junto com o meu deslumbramento, perdi o rumo: quem não sonha não sabe aonde quer chegar. O sonho guia, leva longe. Mas de frustrado ele te faz retroceder alguns anos, te transforma em criança assustada. Sei disso quando durmo em posição fetal querendo ser devolvida ao quente da minha proteção primária. Freud volta a ser meu amigo.

Minha esperança é que o sonho esteja apenas cansado e depois de uma boa noite retorne colorido, musicado e perfumado. Eu disse a minha esperança? Então eu ainda tenho alguma? Nem tudo está perdido.

Estou deslumbrada com a vida, que te devolve à infância quando o mundo adulto atropela e fere. Lá na infância você se enche de sonhos e volta preparada para o mundo adulto, que se ocupa a frustrá-los todos novamente. Eu disse que estou deslumbrada? Não, eu não disse, eu escrevi. Que papo é esse?

Entre idas e vindas me resumo feliz. Entre altos e baixos me resumo equilibrada. Sendo assim, tá na cara e não tem pane: ando meio mal, mas vou sair dessa."


Tati B.



Quem você pensa que é, para expor meus pensamentos assim??




Vivo(a) ou Morto(a) - Meu reino por uma pessoa interessante


Não sei mais o que fazer das minhas noites durante a semana. Em relação aos finais de semana já desisti faz tempo: noites povoadas por pessoas com metade da minha idade e do meu bom senso.


Nada contra adolescentes, muitos deles até são mais interessantes e vividos do que eu, mas tô falando dos de "fabricação em série". Tô fora de dançar os hits das rádios e ter meu braço ou cabelo puxado por um garoto que fala tipo assim, gata, iradíssimo, tia.
Tinha me decidido a banir a palavra "balada" da minha vida e só sair de casa para jantar, ir ao cinema ou talvez um ou outro barzinho cult, desses que tem aberto aos montes em bequinhos charmosos. Mas a verdade é que por mais que eu ame minhas amigas, a boa música e um bom filme, sinto falta de um amor.


Já tentei paquerar em cafés e livrarias, não deu muito certo, as pessoas olham sempre pra mim com aquela cara de "tô no meu mundo, fique no seu".
Tentei aquelas festinhas que amigos fazem e que sempre te animam a pensar  "se são meus amigos, logo devem ter amigos interessantes".
Infelizmente, essas festinhas são cheias de casais e um ou outro esquisito desesperado pra achar alguém só porque os amigos estão todos acompanhados. Tô fora de gente desesperada, ainda que eu seja quase uma.

Baladas playbas com garotas prontas para um casamento e rapazes que exibem a chave do Audi, tô mais do que fora. Baladas playbas com garotas praianas hippie-chique que falam com voz entre o fresco e o nasalado (elas misturam o desejo de ser meigas com o desejo de ser manos com o desejo de ser patos) e rapazes garotos-propaganda Adidas com cabelinho
playmobil,também tô fora.

MUNDO IDIOTA

O que sobra então? Barzinhos de MPB? Nem pensar. Até gosto da música, mas  rapazes que fogem do trânsito para bares abarrotados, bebem discutindo a melhor bunda da firma e depois choram "tristeza não tem fim, felicidade sim" no ombro do amigo têm grandes chances de ser aquele tipo que se acha superdescolado só porque tirou a gravata e porque fala tudo metade em inglês, ao estilo "quero te levar pra casa, how does it sound?"

Para dançar, os muquifos eletrônicos alternativos são uma maravilha, mas ainda que eu não seja preconceituosa com esse tipo, não estou a fim de beijar bissexuais sebosos, drogados e com brinco pelo corpo todo.
Tô procurando o pai dos meus filhos, não uma transa bizarra.

Minha mais recente descoberta são as baladinhas também alternativas de rock. Gente mais velha, mais bacana, roupas bacanas, jeito de falar bacana, estilo bacana, papo bacana? Gente tão bacana que se basta e não acha ninguém bacana. Na praia, quem é interessante além de se isolar acorda cedo, aí fica aquela sensação (verdadeira) de que só os idiotas vão à praia e às baladinhas praianas.

Orkut, MSN, chats? me pergunto onde foi parar a única coisa que brealmente importa e é de verdade nesta vida: a tal da química.

Mas então onde, meu Deus?

Onde vou encontrar gente interessante? O tempo está passando, meus ex já estão quase todos casados, minhas amigas já estão quase todas pensando no nome do bebê? E eu? Até quando vou continuar achando todo mundo idiota demais pra mim e me sentindoo mais idiota de todos?

Foi então que eu descobri. Ele está exatamente no mesmo lugar que eu agora, pensando as mesmas coisas, com preguiça de ir nos mesmos lugares furados e ver gente boba, com a mesma dúvida entre arriscar mais uma vez e voltar pra casa vazio ou continuar embaixo do edredom lendo mais algumas páginas do seu mundo perfeito.

A verdade é que as pessoas de verdade estão em casa.

Não é triste pensar que quanto mais interessante uma pessoa é, menor a chance de você vê-la andando por aí?


Tati Bernardi




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É isso ae Tati, destrói meu restinho de carnaval expondo meu interior desta maneira tão obscena e chocante!!!





sábado, 5 de março de 2011

Crônicas de um carnaval

Os amigos estão espalhados pelo Brasil, cada qual curtindo o carnaval à sua maneira. Alguns até me convidaram, mas idéias como acampar nas montanhas ou seguir um bloco muito louco no Rio não me apeteceram. A turminha aqui da cidade foi pra uma outra cidade vizinha, no "melhor carnaval da região".
A imagem de um monte de gente bêbada se pegando suada no meio da rua ao som de Tchubirabiron e debaixo de chuva, me pareceu um tanto quanto assustadora.
Ok, vamos deixar a hipocrisia de lado.
Sim, a balada que eu mais gosto é considerada a mais lotada e muvucada da cidade, onde você é pisado, chutado, empurrado, dança até quando não quer e raramente consegue ir de um ponto ao outro em linha reta. Admito também que nos churrascos dos amigos eu assumo a parte musical e sempre garanto uns funks, axés, pagodes e todas esse caos sonoro. Também tenho meus dias de porre e de pegação geral.
E, eu considerei sim ir pra esse "melhor carnaval da região", mas poxa, eu deixei de ir pro Rio com as amigas justamente por isso e vou pra uma cidadezinha qualquer com pseudo-amigos de balada? Não.
Mas o que fazer?
Após dias ouvindo e perguntando "o que você fará no carnaval?", admito que surgiu uma tensão ao perceber que não tinha nada planejado. Forever alone em Sorocaba.
Mas peraí!!!
Eu já experimentei uma vez a combinação de carnaval de rua supracitada e não! EU NÃO GOSTEI! Então ir pra rua nem pensar. Eu to sem dinheiro. Meus amigos, sejam pelos motivos que forem estão longe e eu não to com humor pra pessoas semi-conhecidas SORRY. Não to na vibe de beber nem água hoje, nem de dançar tchubirabirum. Que que eu vou fazer num carnaval de rua? Que que eu vou fazer em qualquer lugar???
Me desculpem os que não concordam, mas carnaval NÃO É a minha última chance de me divertir em 2011 ou no resto da minha vida. Não é a minha última chance de ouvir axé, de beber, ou de qualquer coisa. Tudo isso eu posso e farei sempre que me der vontade. E vontade, é o que menos eu tenho hoje.
Portanto, preferi baixar uma infinidade de filmes (a maioria bem ruinzinho), separar uns livros e enfim, ficar aqui no meu sossego.
Não vou deixar, pelo menos por hora, que as pessoas me convençam de necessidades que eu não verdade não tenho!
Eu sequer estava aguardando este feriado como uma pausa no trabalho, nem pra isso vai me servir. A única coisa diferente pra mim são os desfiles na tv e meus pais indo pro sítio num domingo ao invés de estarem voltando de lá. E quer saber, vou pro sítio também.
É engraçado pensar que eu estava sofrendo cólicas e angústias e quase aceitando planos dos quais eu não tenho a mínima vontade nem necessidade.
Minha necessidade hoje é ficar calma, poupando dinheiro e longe de encrenca.

Pros que forem participar das festividades carnavalescas, desejo Boas Festas!!! E juízo!!! Aos que sobreviverem, tenho pretensões de todo um 2011 inteiro de diversão, juntem-se a mim!!!

Sucesso!